Sempre me aperta firme em um abraço que não parece ter fim. Antes de me devolver ao chão me enche de beijos, assim é Dona Eulália, conhecida carinhosamente como Dona Lalá, moradora do Ap 133, ela é daqueles pessoas merecedoras de total consideração, aquele Oásis nesse mundo ríspido. Sempre descontraída, alegre, sorridente, diz que assim que colocou o pé no Estado de São Paulo nunca mais passou dificuldades na vida, conta sempre que ao chegar por aqui no início da década de 1970, ainda criança, conheceu aquela Metrópole cheio de mistérios, encantos, possibilidades, delícias e medos. Um lugar indecifrável para aquela criança assustada.Tudo cheirava a novo, era uma surpresa a cada esquina...Era o famoso tempo do milagre econômico, estávamos no Brasil do Governo Médici, País do futuro, e São Paulo era o carro Chefe da Nação, e ela estava lá para ser testemunha ocular dessa pujança esperada...Não demorou para perceber que o futuro dependia de seu esforço, assim deixou a única Boneca, aquela com os Cabelos de náilon, de lado para trabalhar em Casas de Família de classe média que gerava emprego para os recém chegados migrantes....Mesmo não sendo a vida fácil, para quem tinha vindo do Nordeste vivendo condições quase medievais, regida pela natureza, acordando com o Sol, dormindo quando ele dormia, por pior que fosse a labuta aqui ainda era ( como no antigo testamento ) a terra prometida, a esperança...Hoje vivendo com o Marido, tem orgulho de contar quando aqui chegou e quanto trabalhou para criar os filhos e ter uma vida sempre digna...Apesar de tantos anos passados ainda vê São Paulo com os mesmos olhos brilhantes de criança, o lugar que continua indecifrável...Viva os Imigrantes ,Viva Dona Eulália....Viva a Vida.
Dedicado a leitora Leandra Flores Rodrigues.